Quarentena: nota quatro

#FiqueEmCasa, mas, quando você vive em uma casa partilhada com outros estudantes ou trabalhadores cujas atividades foram temporariamente suspensas, estão todos juntos a respirar os mesmos ares ao mesmo tempo e por longas horas. PERIGO!

#FiqueEmCasa, mas, quando você divide o quarto com alguém nessa casa partilhada (qualquer coisa como uma república estudantil ou um albergue), ares e gases a circularem livremente, você confinado, PERIGO! PERIGO! PERIGO!

Quem consegue manter-se isolado e seguro em “hashtag”, aliás, em confinamento?

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Novidades (Resposta a um e-mail)

Os dias continuam fúnebres, principalmente quando me chegam notícias da outra margem do Atlântico.

Os dias ficam mórbidos, quando recebo notícias de dentro de mim todo santo pandêmico dia.

Pronto.

É isto.

Estou bem.

E tu?

***

P.S.: estou a ler Kwame Nkrumah numa versão portuguesa de 1977, o único traduzido até então. A África deve unir-se é o primeiro título que levanto na biblioteca pública.

P.S.: ah, e tenho cada vez mais raiva das burguesias, as locais e as transnacionais; sempre com arroubos impróprios, terminam por trair a causa operária e mais e mais vezes se metem sob o chinelo e o chicote imperialistas.

P.S.: estou cansado dos Estados Unidos. Até quis muito que Trump ganhasse. E tudo o que eles necessitam é de um egocêntrico para destruir a sua democracia ditatorial (ou seria uma ditadura democrática?) que nos impingem a todos.

P.S.: e o Brasil? Quando me permitirá voltar?

Quarentena: nota um

Alguém se tem esquecido de banhar-se tanto quanto eu durante esta quarentena? Estava com tanta vontade de tomar banho na última quarta-feira, mas acho que me esqueci de fazê-lo.

Dei-me conta da falta de banho a meio de uma aula. Estou a participar em um curso online. Ainda bem que a sala de aula é virtual, pois, só assim, o professor e os outros alunos não conseguem sentir-me o cheiro.

Às 20h, os colegas começaram a despedir-se. Uma colega disse “até à segunda!” Segunda? Que estranho! Se estávamos a meio da semana, — pensei —, por que razão não teríamos aula na sexta-feira?

Era já sexta-feira, quando me dei por isso tudo. Estava tão cansado e perturbado, que dormi a perguntar-me quando tomara banho.

Sábado, acordei sujo, mas seguro de que a vida tinha de tomar um novo rumo. Era 25 de Abril. Pus-me todo limpinho, com energias renovadas. Mesmo impedido de ir à avenida, nutri as boas memórias.

Como todo 25 de Abril, eu queria vivê-lo à grande! O peito cheio de ganas de descer a Liberdade, com o cravo no peito, a cantar “Grândola, Vila Morena”, que me eriça os pêlos dos pés à cabeça, sempre a ansiar por igualdade, fraternidade e oportunidade para, com segurança, viver os versos de Zeca Afonso: “O povo é quem mais ordena/Dentro de ti, ó cidade”.